A Colônia Santa Isabel, um dos territórios de memória mais significativos de Betim e referência nacional na história do enfrentamento à hanseníase, completa 94 anos no dia 24 de dezembro. Para marcar a data, a Prefeitura de Betim, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, promove entre os dias 18 e 21 uma ampla programação que une arte, fé, esporte e memória, em parceria com instituições e com a Casa de Saúde Santa Izabel / Fhemig.
As ações têm início na quinta-feira (18), com o Café da Memória da Colônia Santa Isabel, às 14h, na Unidade Assistencial Gustavo Capanema. O encontro é voltado a trabalhadores e moradores, e pretende fortalecer o vínculo afetivo e histórico que conecta gerações à trajetória da Colônia.
Na sexta-feira (19), o destaque é a abertura da exposição Frei Chico em homenagem ao holandês Frei Francisco Van Der Poel, o Frei Chico - que contribuiu fortemente para o desenvolvimento da Colônia Santa Isabel - e a realização do lucernário, às 19h, no Centro de Memória da Hanseníase Luiz Verganin, espaço que mantém viva a história do território e das pessoas que nele viveram. Antes, às 17h, terá início o Festival de Pastel no Parque Ecológico Paraopeba Vivo Nelson Flores. O espaço será palco do show da banda Velotrol, às 20h30, encerrando a noite com música e convivência comunitária.
O sábado (20) será inteiramente dedicado à integração e ao lazer. Das 9h às 16h, o público poderá participar da gincana comunitária e das 10h às 23h, o tradicional Festival de Pastel, ambos no Parque Ecológico Paraopeba Vivo Nelson Flores. Às 12h, o artista Beto Rcok’n Blues se apresenta, seguida da banda Legião II Cover, às 17h, animando o final de tarde com muito rock e celebração. A noite se encerra com a banda Caramelo’s Blues, às 20h.
As homenagens culminam no domingo (21), com a missa em ação de graças pelos 94 anos da Colônia, às 8h, na Paróquia Santa Isabel (Praça Frei Edgar Groot, 01, Colonia Santa Isabel). Em seguida, às 9h, o Estádio Reuminas sedia uma partida entre o Gigante União Esporte e Renascença Esporte Clube. Paralelamente, o cortejo da Banda Nossa Senhora do Carmo seguirá da Paróquia Santa Isabel pelas ruas da comunidade até o Parque Ecológico Paraopeba Vivo Nelson Flores. No parque, a gincana continuará acontecendo das 9h às 12h.
Durante a tarde, a Unidade Assistencial Gustavo Capanema recebe a Orquestra Filarmônica do Instituto Ramacrisna, às 14h. Paralelamente, o público poderá prestigiar uma série de apresentações no parque: show Juju Pauline, às 14h, apresentação de capoeira com o Grupo Resistência Capoeira, às 16h, Bloco Cueca do Avesso, às 17h, Márcia Brandão e Banda, às 18h e, encerrando a programação, Banda Chevette Hatch, às 20h.
Histórico da Colônia Santa Isabel
A solução do governo para controlar a hanseníase no início do século 20 se deu no campo da "polícia médica". Os inspetores de saúde eram treinados em detectar possíveis portadores da doença e os isolavam de maneira compulsória em colônias, eliminando risco de contaminação. Na prática, o objetivo do isolamento era proteger as pessoas sadias da sociedade e causar a sensação de que os internos ficariam bem e protegidos dentro das colônias, como garantia a escritura presente no portal da Colônia Santa Isabel “Hic manebimus optime”, que em português se traduz “Aqui ficaremos bem”.
Estabeleceu-se até a década de 1950, um estilo de vida adaptado em colônias de isolamento, onde surgiu uma estrutura social peculiar baseada na exclusão e no desconhecimento da doença. A construção de colônias autossuficientes e com algum padrão de conforto funcionava como uma contrapartida do Estado ao privar o indivíduo de sua liberdade. A perspectiva era de que, apesar de isolado, o indivíduo pudesse continuar vivendo como se estivesse na sociedade.
Ao entrar nas colônias, os asilados tiveram que reaprender a viver e a construir novas formas de se socializarem. O isolamento imposto separou os pacientes de seus familiares, além de também afastá-los de inúmeras outras pessoas de seu convívio. Assim, os pacientes tiveram que construir novos laços, identidades e espaços de sociabilidade.
Na Colônia Santa Isabel em Betim, a presença dos mais variados artistas criou uma atmosfera artístico-cultural por toda unidade. O Pavilhão Juiz de Fora, por exemplo, também nomeado Cine Teatro Glória ou Pavilhão de Diversões, possuía cassino, cinema e salão de bailes, onde se apresentavam grupos de jazz, bandas e coral e, vale ressaltar, as Escolas de Sambas. Também havia um campo de futebol e o esporte se fixou na vida da Colônia com a criação de times de futebol e basquete nos gêneros masculino e feminino.
Já a religiosidade foi inicialmente marcada pela presença do catolicismo representado pelas irmãs do Monte Calvário e os frades franciscanos. O assistencialismo proposto era visto como fator de elevação moral, de estímulo, higiene, disciplina. Mais tarde, adeptos de seguimentos protestantes e do espiritismo kardecista também foram marcantes. A presença dos religiosos era considerada um dos mais importantes serviços prestados aos doentes.
Apenas em 1962 a internação compulsória dos doentes deixou de ser regra. O avanço das pesquisas comprovou que a hanseníase não é uma doença tão contagiosa quanto se pensava. Terapias foram desenvolvidas e, em 1981, a OMS passou a recomendar a poliquimioterapia.
Somente no fim da década de 1980, com a mudança da política nacional em relação às 33 colônias existentes no Brasil, os pacientes receberam alta e os portões da Colônia Santa Isabel foram abertos.
Desde 1995, o tratamento para a doença é oferecido gratuitamente por meio do SUS. Nesse mesmo ano, em nosso país, o termo lepra e seus derivados foram substituídos por hanseníase na tentativa de reduzir o estigma milenar da doença.